Das vantagens de ser outro, muita gente não sabe. Ouvi o comentário de que um homem que imita o outro é sem personalidade. E a parte teatral do meu ser - aquela que mesmo sem o palco atua - se revoltou. Não seria o artista, não por acaso, aquele indivíduo que consegue mais largamente penetrar, sem sair de si, através da eterna máscara que evoca, numa atmosfera que lhe era alheia? A cada interpretação o artista se infla com os agenciamentos afetivos que faz na alma de qualquer persona. Um agenciamento intencional é o palco do artista.
Fato é que muita gente não sabe o porque imita, e aqui parece residir o perigo. Aqueles indivíduos da moda, aqueles que seguem uma tendência, ou o outro sem ao menos se perguntar o porque, é que deixam de ser eles mesmos. Agora aquele que entra na outridade, na heterogeneidade de cada ser, com uma consciência de experiência, para extrair os frutos que, sozinha, a sua alma jamais conseguiria alcançar, ganham, por assim dizer, mais do que uma personalidade. Acrescido o individuo que entrou no outro jamais se esqueceu. É ele mesmo, no confronto que se permite, uma entidade dialética que na dualidade lança ao mundo um terceiro ser. A experiência do outro é também a comunicação que nos grita com uma certa urgência antiga. A lógica do mesmo, do igual, do indivíduo ensimesmado, é sempre aquela lógica que já conhecemos. Não viver com o outro para só encontrar o que de si habita no outro ser, e assim se regozijar. Mas habitar o outro para transfigurar aquilo que em si é, até então, inabitável.
Um comentário:
difícil mesmo é ir passear dentro de si mesmo...
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