segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Presente:máquina obsoleta

Trabalhar profundo com aquilo que se tem. Esgotá-lo. Sorver tudo para liberar-se.

Um dos males de nosso tempo é mostrar inúmeras coisas, com suas vitrines e propagandas, e nos forçar a ser dependente daquilo que sabemos que existe mas não conhecemos. Corremos atrás do "necessário" futuro ter e nos esquecemos do material que até agora tão bem estruturou a nossa realidade. Como num conto de Kafka. O excelente trapezista depois de trabalhar anos com o mesmo trapézio sente repentinamente uma vontade inexorável de possuir um segundo: "Só com esta barra na mão, como é que posso viver?"E no entanto, já se viveu. Primeira dor. O homem contemporâneo é como o trapezista, só que ininterruptamente desejoso. Ele não domina nem o primeiro trapézio e já quer os outros, todos os outros. Em sua mão jaz um quebra-cabeça sem imagem a ser formada e sem dobras de encaixe. Quantas dores como a do trapezista inventamos todos dias? Ora é num objeto que agora cremos necessário, ora é num amor, numa profissão, num estado de coisas...até o infinito. A idéia de infinito é bela mas sempre suscita alguma angústia naquele que a vislumbra. Enquanto o homem a vislumbra, a vida fica assim:emperrada. E a impressão de que a vida presente é uma máquina obsoleta que nunca foi usada. Presente:esgotá-lo. Sorver e liberar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Horizontes

Em arte não existe progresso. Baudelaire já afirmava isso. Nessa trama, o sucesso e o fracasso não se molda a lá Capitalismo. As palavras correm é mesmo na horizontalidade de sentidos. Nada é vertical. Altura mesmo, só a do canto. E o canto é sem paredes, não se fecha, abertura. Homero ou Dante, Cervantes ou Kafka, qual o melhor? Impossível dizer. Talvez em arte tudo seja colocação de problemas, vertentes, matizes, um olhar longo de um ângulo ainda não visto. Desbravamento de territórios. Horizontes. E sentir pela arte é sentir pelo outro, como o outro, interseção entre almas. Linhas que se penetram. Horizonte que a cada momento envereda para um continente.Grandes Sertões. Tempos Perdidos. Cidades Invisíveis. Ulisses. Ondas. Processos. Ventos Uivantes. Paixões. Ilíadas. Aprendizagens ou Prazeres. Educações Sentimentais. Ficções. Estrangeiros. Náuseas. Divinas Comédias. Círculos de Giz. Crimes e Castigos. Homens sem Qualidades.Quixotes. Inomináveis. Montanhas Mágicas.Metamorfoses...