Falar é fácil. Falar é fácil demais. Depois de toda ação então, nem é mesmo necessário mais língua. A frase solta que envolve a fala faz sem aparato o vôo necessário para sair da caverna para habitar a amplidão do mundo. A tagarelice está ai a todo vapor, na TV a toda hora, nos botequins de cada esquina, nas horas perdidas de ócio dentro de uma casa.
Escrever também e fácil. Com um pouco mais de trabalho monta-se uma frase, um texto, e de repente está instaurado a mesma tagarelice da fala, o mesmo monturo de pensamento, a mesma náusea de nhenhenhés, com que antes cabia a boca expandir. Com a fala se expurga a culpa de não ter feito antes o que poderia estar e que agora é reclamado. Milhões e milhões a toda hora.
Bêbados sem álcool nenhum dizem as coisas mais sem sentido que nem o personagem mais lúcido de qualquer lugar saberia pronunciar tão bem. Com a tagarelice escapa-se do tédio. Sim, é uma boa forma de passar o tempo, construindo castelos de areia que na mesma hora que montados escorrem pelos dedos.
E assim o mundo prossegue amontoando merda atrás de merda só para ter a impressão de que falando a vida se torna menos fétida.
Eu quero é ver quem tem coragem de silenciar para extrair desse silêncio a frase que ultrapassará todas. Eu quero é ver quem tem coragem de interromper o fluxo da frase, o fluxo do pena e da escrita, para no momento seguinte extrair uma poesia que reverberá. O mundo está lotado de palavras inúteis. E uns ainda reclamam o estatuto de obra de arte em todas as áreas. Nem Duchamp que deslocou o estatuto do que é arte de forma que ainda nos dá trabalho tagarelava tanto. Na verdade Duchamp sabia das coisas. Não é de se espantar que a sua obra ainda esteja nas veredas dos enigmas. Enigmas e silêncios.
É necessário lançar a palavra como uma flecha diante do alvo, como numa essência minimalista. Onde se entrevê entre o tão pouco um mar de entrelinhas.
domingo, 3 de agosto de 2008
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Um comentário:
é aquela coisa que falei num de meus blogs: da polifonia: o caos de várias vozes: a torre de babel.
Acho Sérgio Sant'Anna bem tagarelo. Mas pelo menos ele faz da tagarelice, arte. Isso é talento. Ele tagarela com pretensão artística. Agora as pessoas por aí, tagarelam por tagarelar, é como você disse: na tentativa de tornar a vida menos árdua... uma sublimação?
Meu último post dialoga um pouco com esse seu.
Beijos.
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