segunda-feira, 7 de abril de 2008

Ausência da referência

Observo da janela as árvores, os pássaros. Vejo-os sempre além do que são: vejo na memória algum semelhante outono numa cidade antiga de minha juventude, o mesmo clima, o mesmo farfalhar das folhas, o mesmo canto do pássaro. Não sou capaz de dar àquilo que vejo uma liberdade plena. O presente é sempre reenviado a algo que não pertence a ele. Dou outra cor ao pássaro e ao canto como se eles precisassem, para existirem, da força de minha imaginação. Faço-os virarem fantasmas em preto e branco tão logo os vejo com os olhos de minha recognição. É óbvio que eles existem plenos sem o aval de minha memória. A verdadeira visão é esse pássaro, no pouso e no canto, sem adição, no seu futuro movimento que não adivinho, no seu invisível vôo melódico, na sua cor desafiada pelo sol que me atinge extremamente forte e singular, una e múltipla.

2 comentários:

Maíra disse...

Que a paisagem nada mais é que cenário pra nossas angústias/euforias.

Maíra disse...

seu outono rendeu no meu provisório...