quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Incubadora

Desde sempre a espera o habitou como certeza. Espera e liberdade juntas e planas no nascer. E depois de nascer, ter de esperar para nascer de novo, pleno. Quantos foram os meses em que ficou ali, apenas sentindo o mundo, numa espécie de bolha? A realidade e o real não poderiam - jamais - ser o mesmo, o de todos. Sem linguagem, sem contatos, movia-se e chorava. De um nada ao outro. E o que fazer com aquilo que ia se acumulando dentro? Porque as coisas se acumulavam, a fome atrás de fome, um choro atrás de choro, uma sombra cega passando atrás de uma outra sombra cega, e os afetos - Quais? E o que ultrapassava para o campo do real-real, de seu corpo franzino e desajeitado, daquela alma que se fazia como a própria natureza bruta? E a realidade e o real de hoje - jamais - seriam fundado com a mesma sensibilidade do senso comum. E aqueles meses na incubadora, prematuro, vivendo mas não vivendo, sendo de outro jeito, foram fundamentais para a constituição de seu ser.

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