Tem personagens que são tão fortes que não aguentamos a sua vertigem. São tão densas e constantes as inúmeras metamorfoses que ele sofre, é tão variada e sutil a gama de experiências que ele sente, que não conseguimos acompanhar com firmeza o seu devir. O acontecimento é bem maior do que nós. E mesmo se esse personagem expõe exatamente isso - alguém que não está no nível do acontecimento que a vida lhe dá - nós não conseguimos. O tempo de que é feito um personagem não é o mesmo de que nos servimos para lê-lo. Então, algo escapa. Ele, mesmo caminhando em passos lentos, tem o seu processo em andamento. E nós, de quanto tempo precisaremos para realmente sentir e entender um personagem em seu limite? Muito tempo. E a vida ainda não está pronta para a vertigem que o ser quer ter. Mas isso é bom. E a vertigem será um dia retomada.
Nesses livros assim, não se pode também bobear. Qualquer consciência frouxa pode colocar tudo a perder. O livro exige um acompanhamento de médico na Uti. É pelo intensivo que o livro nos pega. Se não estiver em tal clima proposto, sente-se náusea (nada de Sartre por aqui), as palavras marulham, e se vomita o livro por não aguentá-lo, ou por comê-lo em certo tempo indevido.
Refiro-me aqui a leitura de "A maça no escuro", da Clarice Lispector. A vertigem foi tanta que o abandonei na página 170, na metade. Não consegui acompanhar o seu processo. Um pouco de culpa minha talvez, mas em sua maioria foi pela grandeza do livro. Voltarei a ele brevemente. Mas será que essa leitura pela metade foi em vão? Duvido.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
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Um comentário:
Nem me fale em Clarice Lispector! A cidade sitiada me deixou com síndrome do pânico. Agora, o que você falou se encaixa mais comigo em relação ao Jaime Faria, do Alegria Breve, de Vergílio Ferreira. Não tô dando conta da vertigem dele!
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