terça-feira, 25 de setembro de 2007

O que se passou?

Nessa alma conturbada, movida a turbilhões, encontrava raros momentos de plenitude. Quando as suas ações eram traços de expressionismo, quando o agir de sua alma era um tufão que arrastava café da manhã, banho, bom dia, a sua grande fuga era abandonar-se, mas como quem segura o último laço de corda para não cair no abismo. Mas ontem - que dia foi ontem? - o que se passou? Não tinha nada daquilo. Se pouco, se muito, se exato, não sabia. Se eu, se outro, se quem, não sabia. Mas naquele marasmo do dia, mansidão da alma e da terra, a lágrima escorria - como poucas escorreram até então, de um modo tão delicado que parecia pintada por um artista sem mãos, sem textura de pele e peso - enquanto via a chuva correr transversa por entre as árvores, no pé da montanha. E ao fundo, uma melodia de Schubert compunha a cena. Se cansaço, se vitória, se acaso, não sabia.

Um comentário:

Cacau disse...

Esse seu post lembrou-me muito o Vergílio Ferreira!