terça-feira, 18 de agosto de 2009

Hiato

Meses sem uma única palavra, sem um único texto. Tenho que ser justo e me retratar antes de pensar em escrever algo mais por aqui. Claro que escreverei mais aqui. Mas antes, devo àqueles que me leem. Quem? Não sei. Muitos? Duvido. Poucos? Sim, mas sinceros.

Não sabemos como começamos ou paramos de fazer algo. Talvez o nascido já habitasse, muito que certamente, antes de irromper em parto. Parto de qualquer espécie. O que matura já se exercita no não percebido. Da mesmo forma o que interrompe. A inércia se quantifica em pontos tão inérticos como ela. E de repente, quando a coisa se torna grande demais nos damos conta e ai, para aqueles que não estavam tão atentos, a mudança se faz ali, inadvertidamente. Mas não, a mudança é o que consiste em estar presente. Ela já habitava.

Gilles Deleuze já dizia para prestarmos atenção aos buracos de nossa vida....é geralmente lá que as coisas acontecem. Mas no meu caso, não estive em buraco nenhum. Ou melhor, estive, mas não na forma corriqueira da clausura. O buraco é no sentido temporal, um hiato que se faz, de tempo, onde começamos a perceber tudo diferente. Na verdade saí do buraco e irrompi com um outro olhar para a vida. Na verdade o que mudou foi a minha relação com as coisas, entre as coisas.

E também tem o seguinte: quando encontramos o que buscamos deixamos de forjar uma personalidade que existia exatamante para conquistar o que não havia.Não, isso está longe da falsidade. É como alguém que cria um objeto para se libertar e poder voar com as próprias pernas, compreende? E quanta coisa colocamos em nós mesmo, quantos gostos e ideias fabricamos, quantas aptidões adiquirimos, para suprir a necessidade do que realmente queremos. E será que somos o que somos como fim de nós mesmos ou será que somos para querer ser sempre outra coisa? E sabemos o que realmente nos afeta nessa vida? Ou o que nos afeta gira e se transforma porque o que realmente queremos que nos afete não nos afeta? Ta é ficando confuso esse texto...

Explico: Sei o que me afeta. Sei o que sempre me afetou durante toda a vida. O amor. Ponto. Sem romatismo em demasia, viu? Até eu descobrir isso também demorou. E não é que só fui descobrir que o amor real não só não precisa de idealização romântica, como também o supera, no momento em que vivi e descobri o amor. Estou vivendo. E estou numa fase de muita mudança onde preciso me adaptar também àquilo que sempre desejei - e me adaptar também ao mundo real que vem através dele. Sim, sempre fui muito ensimesmado, e talvez os livros e a filosofia surgiram como arma para escapar e (ou) lutar contra a ausência do que me faltava. Sei lá, acho que no passado excedi em alguma coisa. Uma radicalidade com a vida desnecessária. Com o amor vem uma coisa chamada responsabilidade. E descobri no meio dessa responsabilidade que a prática é ótima, que ela é o que legitima tudo. Pode ser um paradoxo para quem faz filosofia e vive no mundo abstrato das ideias. Mas não é. A prática é o fundamento também da filosofia. É o que nos faz real e terrenos e não seres abestalhados olhando para o céu e seus paradoxos. A prática nunca foi tão saudável e louvável! Sim, um brinde à prática das ideias! E os ensinamentos da própria prática também são louváveis e tem um gostinho especial que nenhum teórico ensimesmado sentirá.

É claro que no meio desse turbilhão de circunstâncias vem um monte de medos e dúvidas. Mas prefiro estas. Estou me sentindo muito mais real. Muito mais em comunhão com vida, muito mais filósofo também por causa disso. Filosofar é encontrar a harmonia e comunhão com todo o possível, até mesmo com o que a filosofia abomina. Sim, muito mais real. Por isso também sinto-me muito mais aprendiz que nunca. Com medo também de me sentir idiota e de perguntar coisas óbvias que até então nunca tinha prestado atenção na vida: como se faz arroz? Como se prega um botão? O que é CNPJ? Bem, essas coisas necessárias que até então idiotamente ignorei aprender e praticar. Sinto também uma certa dose de vergonha por ser quem eu fui até hoje. Mas uma vergonha saudável de quem viu o erro e tem uma vida pela frente. E aquele título Proustiano que sempre me persegue - na verdade acho que persegue todo mundo - volta a preencher a minha cabeça....Em busca do tempo perdido.

É muita mudança que não sei se deu para entender (Nem eu consegui percebê-la ainda totalmente...quanta coisa ainda falta). Entender não, sentir. A mudança se sente. Mas sei que aos pouco ela também habitará aqui, no blog, na forma como escrevo, no que olho, no que recorto desse mundo para colocar aqui. Aos poucos, sempre aos poucos é que a gente deve perceber tudo. E quem convive deve estar percebendo a minha mudança...e podem até dizer...mudou por amor, por causa de uma mulher e coisa e tal, essas bobagens...mas não sei se existe mudança mais nobre senão essa: a mudança que o amor provoca. Pelo e atráves do amor. Nada é mais nobre e belo. Romântico? Não. Realista. Quem ama sabe das transformações que estou falando. Reais.

Parei de escrever no blog também porque ultimamente estava achando os meus textos íntimos demais. E olha o que eu faço....um texto super íntimo....mas não é uma paradoxo.É lógico. E não menos lógico seria dedicar também esse texto a quem realmente fez esse texto. Não as palavras, mas a mulher que fez o homem. À Nádia, sempre, por ser quem eu sou hoje. Com os olhos de hoje. Para a vida real. E o futuro será nosso meu amor. Com um homem que não desistirá de melhorar nunca. Que sabe que não é perfeito e que falta muito para ser o homem ideal. Mas que não parará nunca...que viverá para o amor até nos momentos em que suspeitamos não haver amor. Em nome do que sinto por você. Em nome do amor. Em seu nome. Em meu nome. Em nosso nome.